quinta-feira, 22 de novembro de 2007

19º Dia - Você é o que você...

imagem do filme "What Dreams May Come"

Quinta-feira, 22/11/2007

Hoje, no caminho de volta pra casa, depois de um dia daqueles...
definição de "um dia daqueles":
  • bater a costela na maçaneta da porta antes mesmo de escovar os dentes pela manhã;
  • acordar e ter que ser veloz como o Papa Léguas pra entregar o JP na escola e chegar na fisio a tempo;
  • manobrar o carro e arrebentar o radiador numa guia de calçada (estou pensando em responsabilizar a prefeitura pelo dano);
  • ter que me virar pra chamar um guincho, esperá-lo chegar, correr pra pegar um taxi e pagar quase 30 reais pelo taxi;
  • chegar enjoada (enjoada, no sentido gástrico mesmo) no trabalho que, se não entediante, é horrívelmente horrível (entediante não posso dizer que seja... todo dia sempre tem uma emoção... geralmente, não boa, infelizemente);
  • ter que receber a notícia do valor do prejuizo do carro (lanterna de segunda + radiador de hoje);
  • almoçar SEIS HORAS E MEIA após ter tomado café-da-manhã;
  • ter que aguentar gente palhaça, que nunca andou de carro comigo ou sequer ne viu dirigir, me dizendo que dirijo mal (sou exímia motorista, apenas um pouco desatenta demais);
  • andar a pé, de saltinho alto, com dor nas costas, nas calçadas irregulares da cidade pra encontrar o mecânico que iria entregar o carro;
  • fazer o super cheque pra pagar o conserto (só do radiador... porque da lanterna será só quando Deus quiser);
  • quase morrer de saudades do amor da minha vida;
  • morrer de medo que a saudade seja eterna.
Bom, voltando ao assunto... depois de um dia daqueles estava dirigindo* pra casa e ouvindo o primeiro CD que gravei na minha vida, com as músicas do meu gosto. Isso foi há dez anos atrás meu Deus... o tempo voou!! Desconfiando de que meu gosto continuasse o mesmo** desenterrei essa relíquia pra ouvir no carro... Comecei a refletir sobre o que uma pessoa grava no primeiro cd que ela vai gravar na vida... imagino que seja o mesmo para todo mundo: o que mais a gente gosta... sera algo como escolher, para mandar revelar, dez dentre cem fotos... E fui ouvindo o cd, com a coletânea pra lá de eclética, refletindo e avaliando meu gosto musical... o genuíno... verdadeiro... até mesmo genético gosto musical... A trilha sonora da minha vida (posso seguramente chamar assim) é composta desde Almir Sater, cantando "Tocando em Frente", passando por Bryan Ferry com a melosa, deliciosa e dramática "Slave to Love", caminhando entre as açucaradas do filme "Cidade dos Anjos", fazendo um flashback ao anos 70, "Andanças"," Flor do Cafezal" e "India seus cabelos nos ombros caindo... negros como a noite que não tem mais fim..."... (essa acho que nem meu avô tinha nascido, mas está aí, porque em algum momento da pensei que essa música poderia ter sido feita pra mim), uma, só uma!, da Sandy (& Junior...- sem comentários), algumas do Aerosmith - as mais trágicas..., uma italianinha de Andrea Bocelli, "Chão de Giz" (aquela do encontro da Elba Ramalho e não sei mais quem), Araketu e "Minha Razão de Viver" (essa estava tocando bem alto quando estacionei em frente a escolinha... aposto que se o João fosse maiorzinho se recusaria a entrar no carro) e pra finalizar mesmo... pra ir "a nocaute outra vez": Love of My Life, ao vivo, com Freddy Mercuri, com uma voz rouca e a multidão cantando junto, num fenômeno que se poderia chamar de "fundo do poço" coletivo... Enfim... ouvindo essas músicas todas comecei a pensar que aquela expressão que diz que "Você é o que você come" é verdade pra outras coisas.. acredito que você é o que você assiste, o que você ouve, o que você lê... sou o que sou porque, entre outras coisas, meu gosto musical ajudou a me moldar, definou muito do meu caráter, da minha personalidade... sou impulsiva, exagerada e absurdamente dramática porque foi isso que eu li, ouvi, foi isso que eu assisti... Tenho certeza de que se eu fosse criada numa comunidade "Paz e Amor" eu seria totalmente diferente: não ouviria esse tipo de música, histórias Walt Disney jamais passariam da minha t.v. (até porque eu não teria uma), não usaria salto, não acreditaria em Papai Noel (só em gnomos e duendes), não ficaria deprimida por estar há um tempão sem ir na manicure, não comeria tantas bobagens calóricas e portanto não engordaria, não precisaria de terapia nem muito menos de anti-depressivos, ansiolíticos e afins, não teria problemas na coluna ou ciático antes dos noventa, não amaria uma mesma e única pessoa por dez anos seguidos nem muito menos comprometeria minha vida por uma história a la "Casablanca", não andaria de carro e sim, à pé, captando a energia da terra com os pés sujinhos... e nunca, JAMAIS, iria trabalhar em nenhuma instituição financeira em lugar algum desse mundo... Pode se ver que sou o que sou porque fui criada assim... cresci assistindo Cinderela, Bela Adormecida e Branca de Neve, onde os finais felizes de uma vida acontecem em menos de duas horas, cesci evitando assistir Bambi (só porque a mãe dele morre), sendo poupada e também me poupando de saber as coisas ruins do mundo e das pessoas ao meu redor, assistindo He-Man e acreditando, toda manhã, que "o bem vence o mal e espanta o temporal..." (aquela musiquinha cantada pelo Gorpo e Driele), depois assistindo, milhares de vezes, dramas como "Philadelphia", "Um Sonho de Liberdade", "As Pontes de Madison", "Casablanca", etc etc... e ainda, cansada das histórias emocionantemente tristes, aquelas comédias românicas, ultra açucaradas, que eu tanto amo "Sintonia de Amor", "Enquanto Você Dormia", "Mensagem Pra Você", "Simplesmente Amor"- este eu vi pela 23ª vez neste último feriado... enfim todos daqueles que têm na história ou Natal, ou Amor, ou encontros e desencontros, ou Meg Ryan ou, o que é ainda melhor, tudo isso junto, em um só filme... Enfim... sou assim porque fui criada assim... meus pais gostam disso e eu também, graças a Deus... sofro um pouco? Sofro sim... estou constantemente me decepcionando: com pessoas, com histórias de amor, com a percepção de que o bem parece nunca vencer o mal e a de que "quem é bonzinho só se fode"... mas sei que estou vivendo... Se a gente é o que a gente come nunca vou abolir do meu cardápio o delicioso strognoff e nem o brigadeiro... quero ser saborosa (em um sentido bem amplo) como o panetone e tão fundamental como uma simples pizza pode ser... Se a gente é o que a gente assiste vou continuar assistindo "Cinderela" pelo menos uma vez por ano, "Simplesmente Amor" pelo menos três, pra nunca deixar de crer que um amor de verdade sempre tem final feliz e que existe além da vida (como no filme)... Se a gente é o que a gente ouve, continuarei ouvindo o Freddy Mercury cantando "Too Much Love Will Kill You", cantando junto e me convencendo de que é possível morrer de amor quando a dor de quem ama muito se torna insuportável... Se a gente é o que a gente lê "Sonhos de Uma Noite de Verão" será sempre meu livro de cabeceira... Sei que estou vivendo e que essa minha vida "mexicana" torna muitas coisas ruins mas, em muitos momentos, também divertidas... Estou feliz por estar aprendendo a rir de mim mesma...

*dirigindo muito bem
** meu gosto continua o mesmo em todos os sentidos... o mesmo amor, as memsas músicas, o mesmo gênero de filmes, etc etc...

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