segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Terapia Pelo Homem Baixo

O Homem Baixo

Quando a gente trabalha com o público estamos sempre tendo a grande oportunidade de conhecer todo tipo de pessoa.
Meu dia começou cedo hoje. Precisamente às 4h da madrugada, quando acordei me sentindo mal. Estava sentindo uma forte dor de cabeça, meu rosto parecia inchado e dolorido e meu corpo então... este parecia que tinha sido atropelado por um trem... sem contar a dor nas costas (que começou dia 10 de agosto- meu primeiro dia de férias)... Sentei na cama, sentindo sono, sentindo uma necessidade desesperada de dormir, mas estava já começando mais uma daquelas insônias da madrugada... E lá fiquei eu, deitada na cama, toda dolorida, esperando o sono chegar. Como é de costume, meu sono só retornou quando já estava na hora de eu acordar. Hoje teria que sair mais cedo devido ao que havia sido combinado com a fisioterapeuta. Só que hoje - justo hoje- um engraçadinho resolveu me ultrapassar pela direita justamente no momento em que eu precisava entrar na avenida da clínica e assim lá fui eu parar quase do outro lado da cidade, perdendo com isso, quase vinte minutos. Já cheguei estressada, às 8h35min, na fisioterapia, que hoje foi um pouco menos entediante, já que fiz uns alongamentos além dos choques e do calor nos glúteos. Cheguei no trabalho super cansada da correria da manhã que foi além de acordar com sono e dor-de-cabeça, chegar atrasada na fisio e no trabalho... pois tive fazer uma compra emergencial no supermercado (as mulheres devem imaginar do que se trata). Com dores, sentei na minha cadeira, numa posição que nada é favorável para dores e lá comecei a atender meu público. Gosto de observar as pessoas... e como trabalho no setor financeiro, sempre há muitas chances de observá-las. Na fila do banco formam-se grupinhos, especialmente em dias de pagamento (como são os dias 10), em que os bancos ficam apinhados de gente. É engraçado observá-los. Alguns a gente percebe que estão alegres por encontrar colegas - estes, geralmente simples idosos, fazem do banco como se fosse uma pracinha. Alguns a gente percebe que se afinam porque estão insatisfeitos - pode ser com a fila, com a falta de tempo, com o salário baixo, enfim... Outros a gente percebe que ficam na deles, esperando ser chamados 'O próximo'... Pela cara da fila dá pra saber que tipo de dia vamos ter. Porém hoje, foi um dia atípico... bom, nem tanto... geralmente dia 10 tem fila e hoje, como sempre, teve também... Mas eu digo que foi atípico porque eu falhei em perceber o dia pela 'cara da fila'. Acho que, na verdade, foi minha percepção que falhou...
Quase a ser dois dos 'próximos', havia dois homens conversado... um senhor, que deve ter seus 70 anos (ou devia... pode ser que ele tenha morrido) e um outro mais jovem (uns 45 no máximo). Mas o que me chamou a atenção foi o senhor simpático, que conversava alegremente com o outro mais jovem -nem tão alegre. Quando meu colega chamou o tal senhor sua expressão facial mostrava já uma certa mudança... de bem alegre para não tão alegre. "deve ser porque ele teve que encerrar a animada conversinha" pensei eu, com minha Santa Ingenuidade. Mas então, sem muito começo nem motivos para tanto, o tal senhor começou a falar cada vez mais alto... e mais alto... e quando eu vi, as pessoas na fila riam enquanto ele abria a camisa e dizia, já berrando "tá vendo isso??? Três... três pontes de safena!!!! Eu não posso passar nervoso... eu não posso ficar nervoso... eu posso morrer a qualquer minuto..."... Olhei para ele tão assutada por não entender o porquê do chilique... mas o respeitei como deve-se respeitar um 'homem-bomba' que abre a camisa e mostra o corpo enrolado em dinamites, ameaçando explodir tudo... Meu colega, que, graças a Deus, é muito paciente, ficou apenas balançando a cabeça calmamente como um habilidoso psiquiatra, tendo que fingir concordar com tudo, diante de um paciente difícil... Estava tudo meio estranho (pra mim) e engraçado (para as pessoas da fila) aquilo que estava acontecendo, até o momento que o homem-bomba resolveu abotoar sua camisa e começar a explicar sua causa. Ahhh... aquele discurso sim... aquele me tirou do sério... Ele começou a reclamar de tudo: desde a posição da fila preferencial, passando pelo fato de ele não conseguir acessar sua conta pela internet ("ô incompetência"- pensei eu com minha cabeça, que começava a latejar), até os uniformes dos guardas. 'Meu Deus'... o que era aquilo??? Aí ele continuou com seu discurso, falando ainda mais alto do que eu imaginava ser possível: "Como pode, existir um banco que eu não posso acessar minha conta pela internet?? Como?? Sou professor-doutor da melhor universidade do estado, fiz pós-doutorado na universidade de Michigan - conhecem??? "... Olhei, furiosa para outros colegas... Aquilo estava passando demais dos limites... E meu calmo colega, fez que -sim- com a cabeça... E o nosso cliente surtado prosseguiu "Então.... você sabe... como um homem com um alto Q.I. como o meu não consegue acessar a conta pela internet?? Dá pra ver que eu não sou um homem baixo, não dá?? EU NÃO SOU UM HOMEM BAIXO!!!! Ou será que sou burro?? Vamos, me diga... eu sou burro?? HEIN??? EU SOU BURRO???".
Eu não podia estar ouvindo aquilo... mas estava (prova disso são meus ouvidos, que ainda estão meio entupidos meio 'zunindo' de tantos berros que ouvi... sem contar a dor-de-cabeça que começou às 4h da manhã e só piorou)...
Foi muito estressante perceber que ele precisava apenas berrar e botar pra fora suas infelicidades... Até porque ele deve ter saído mais leve, mas nós, que trabalhamos das 10h às 19h hoje, passamos um dia totalmente péssimo... Percebi como uma pessoa desequilibrada pode perturbar, em dez minutos, o equilíbrio de um ambiente, por um dia inteiro.
Bom, mas comecei a contar essa história para falar de uma coisinha que aprendi. Eu também sou graduada naquela que é considerada a melhor universidade do país mas, me vi obrigada, por caminhos que minha vida tomou, a trabalhar num emprego que nada tem a ver com minha área de formação. No entanto estava lá, quieta, sentindo todo mal-estar do mundo -hoje, sem nunca me gabar, ouvindo tantas besteiras todos os dias. Mas como sou uma pessoa polida, além de instruída, nunca consegui pensar que houvesse uma diferença entre as duas coisas. Só que hoje o Homem Baixo me fez enxergar muito bem esta diferença. Ele pode sim ter um Q.I. altíssimo, pode ter sido (ou ainda ser)um pesquisador de sucesso e um 'grande' professor, mas não tem educação... o Homem Baixo ainda não sabe quão baixo ele é porque seu grau de instrução pisou e massacrou a essência do homem que ele deve ter sido um dia... e de lá de baixo, de onde esse pobre homem está olhando, ele não pode ver nada além do pé que está sobre a sua cabeça. Pobre Homem-Baixo...

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Bia!
Que segundona, heim???
Olha que o mundo tá cheio desses tipos aí...
Tava melhor domingo na piscina, né?
beijão!

eu disse...

Acho que eu às vezes preciso ser com o Homem Baixo...mas de uma forma mais direcionada..e não tão generalizada...